Aforisma 2

16 02 2012

A sutileza do ser é a nossa diversidade





Momento

3 09 2010

Estar apaixonado por quem sorri e não ama
é tão belo quanto a sensação de não sentir a Terra girar
e a arte sólida que nos é tão imprecisa
ao artista representa tudo o que se é
sem contudo haver um significado qualquer
como o amor não vivido de uma canção
favorita de dois amantes que já pensam no fim
e as ondas do mar que nos pintam de alegria
e de lágrimas e de cinzas diluídas em sonhos
de coisas que não precisamos…

Mas todos nós precisamos de sonhos!
precisamos viver o que não nos é tangível
nem que por um segundo sequer
mergulhar tão profundamente dentro de nós mesmos
e esquecer os sentidos
e sermos apenas nossas vontades desnudas
mesmo que nós mesmos as reprovemos
quando caímos de volta aos nossos pés e pernas
e aos nossos ritos tribais, bárbaros e magníficos
como o infinito que se dobra sobre si mesmo
e o amor para o outro que na verdade é meu.





Silêncio

17 07 2010

Há dias em que a brancura do silêncio,
como a aspereza transparente do vento,
me inunda mente e pulmões adentro.





???

27 06 2010

Existe algo que já não está em nós,
mas que imediatamente nos é,
somos, nos tornamos, tudo junto,
á medida que vivemos e sentimos,
o de fora se tornar o que somos,
e o que somos bradar para o mundo
a dor de não ser mais o que éramos
há um segundo?

As lágrimas e os sorrisos são o canto rouco de nossa folclórica resiliêcia.





Tranquila Expectativa

13 06 2010

O dia termina,
Lua a cima.

A calada da noite festiva,
o alívio merecido da sina,
e o fardo alado da vida,
se recompõem sem pressa.

E o concreto não é como a gente imagina.
Antes pudesse conter minha expectativa…

Mesmo por ser diferente, inesperado,
consiste assim um futuro desamarrado,
livre de qualquer intenção do passado,
mas irremediavelmente a ele encadeado.





Aforisma 1

3 06 2010

A dúvida é o livre arbítrio antes da escolha,
como o pássaro jovem que ainda não voa,
mas já tem dentro de si a saudade do vento.





Ensaio sobre a Inocência

2 06 2010

Inocência cândida contida
dentro da brisa fresca matinal,
esfera crua, transitória e banal,
tratado da alegria e da ausência.

Confere ao ingênuo portador
a surpresa carnal da abstinência,
e o não haver veneno na mente,
e ao mal raiz a dolente dormência.

Bem como ampara os ombros do tolo,
que sustentam o vil imoral,
e comovem a esperança e o dolo,
de que o impuro assim permaneça.

Unifica num só ser singelo,
o céu interior e aparência,
sem que haja distinção qualquer,
entre o belo e a vã subsistência.

Com muros de pedra e consequência,
vossa perda endurece o ser,
forjando o medo em coexistência,
e em conflito constante o viver.





Meia-vida

25 05 2010

A gente se acostuma ao frio,
ao calor,
ao pudor,
ao arrepio,
ao amor,
ao desafio,
ao sucesso,
e ao declínio.

A gente se acostuma à dor,
ao pavor,
ao ser e ao viver,
sem compostura,
com amargura,
sem saber,
a Deus temer,
e a andar na rua:
uma aventura.

A gente se acostuma aos demônios,
a conviver com as vontades,
e as vaidades,
inexplicáveis,
intoleráveis,
condenáveis.

A gente se acostuma ao incômodo,
ao asco e ao nojo,
ao lúdico e ao arrojo,
ao conforto,
e ao aborto,
de todos os dias que escorrem,
através de nossos dedos,
e de nossa alma,
e deixam apenas algumas vespas de açúcar,
que colidem dentro de nós,
como sinos.

A gente se acostuma,
a se acostumar com as coisas,
a transformar o desconforto em esquecimento,
o medo em alento,
a exploração em sustento,
a frustração e o tormento,
em calafrios,
que logo entram na nossa pele,
e se tornam parte dela,
como os peixes nos rios,
eternamente a desaguar no oceano do sobreviver.





Questionamentos do Mendigo Pleno

13 05 2010

Diga-me, ó mendigo:
vives tua vida plenamente?
De dentro de uma caixa de papelão,
e a implorar por um tostão,
para a comida, a bebida, o fumo e a puta?

Diga-me, homem, digo:
do alto de nossas caixas de papelão de cimento,
podemos criticá-lo, tem cabimento?
Chamar sua vida de fajuta,
e considerar sua valente dignidade diminuta?

“Diga-me, homem”, disse o mendigo:
consideras tua vida plena?
Se a grandeza de tua alma é tão pequena,
e teus sonhos divagam sob o sono do Sol,
como a necessidade criada que te envenena?

Diga-me, ó mendigo:
Tens necessidade da doce condição,
pelo inverossímil motivo da desilusão?
Ou da razão intuitiva de ser em busca da ação?
Ou vives como ser primitivo?

Diga-me, homem, digo:
És tão evoluído quanto (não és) destemido?
Sabes tão claramente qual o sentido,
de viver com o coração sob a pálpebra,
quando sabes que não existe o indevido?

E disse alguém, baixinho consigo:
A plenitude só será alcançada,
quando o Sol, homem e mendigo,
tornarem-se uma única e entrelaçada
parte integrante do desconhecido.





Devaneios de segunda-feira

10 05 2010

Estou estranho.

Lerdo, esquisito, aborrecido,
talvez até um pouco fanho.
Não sei se gripo ou se ganho,
o meu desapego do rebanho.

(pausa para assoar o nariz)

Estou um pouco melancólico.
Talvez ainda um pouco alcoólico,
remanescente do churrasco passado,
aquele da briga e do pestisco tostado.

Mas essa briga não tem nada de intriga,
na verdade é tudo escancarado.
Meu primo, besta, aquele safado,
não amadurece, não trabalha, não cresce.
O sacana sequer enrubesce!

Mas a estranheza não veio de ontem,
nem de longe, do alto ou de outrem.
Ela veio foi saindo aqui de dentro
Subiu e foi mudando minha atenção, meu centro.
Fez-me terremoto sem epicentro.

Sacudiu-me o cérebro e o corpo todo,
e tudo deixa tanto de fazer sentido,
que me lembrei até do cachimbo de ouro,
do buraco fundo, do domingo e do touro.

Motivação difusa de fuga e agouro
leva meu espírito para longe e deixa o corpo:
apodrecido, inerte, estorvo.
E fanho.

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Em co-autoria com Karina Ciotto (http://exitit.wordpress.com/), vapt-vupt.